segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

As eleições do desinteresse

Por Leandro Rodrigues

Daqui alguns anos, ao nos lembrarmos de 2014, provavelmente teremos como fato mais marcante a Copa do Mundo de futebol realizada no Brasil. O resultado é imprevisível, mas independente do vencedor, este será o ano da copa no Brasil. Será aproximadamente um mês de copa que marcará o ano. E os outros 11 meses? A estes resta conviver com a expectativa da realização da copa e a ressaca após seu término, seja celebrando o título ou chorando a derrota.

Para a maioria dos brasileiros, entretanto, por mais que exista a expectativa da realização da copa a vida continua e outros acontecimentos de 2014 não podem esperar, como as Eleições deste ano. Nos bastidores políticos as movimentações, conversas e arranjos seguem aceleradas. Entretanto, o eleitor está distante deste processo pré-eleitoral. Os números da pesquisa GRUPOM/Tribuna do Planalto em Rio Verde demonstram um fenômeno nacional: o pouco envolvimento do eleitorado neste momento. Apesar da imprensa especializada em política noticiar nomes de pré-candidatos no cenário local e nacional, os índices de indecisos ou que não conhecem os pré-candidatos são altos. Em Rio Verde temos aproximadamente 70% de indecisos ou que não conhecem os candidatos para presidente e impressionantes 77% para governador. Isso significa que a cada quatro eleitores em Rio Verde três não decidiram ou não se lembraram, espontaneamente, de um nome a ser votado para governador.



Fonte: Pesquisa GRUPOM/Tribuna do Planalto registrada no TSE BR-00011/2014 e TRE-GO 00009/2014 de 11/02/2014
Ao se estimular alguns possíveis nomes e cenários é natural que o número de eleitores que se dizem indecisos ou não avaliam diminua consideravelmente. Percebemos isso ao vermos que apenas 6,4% não avaliaram ou se declararam indecisos e 6,6% declararam que vão anular seus votos, perfazendo 13% dos entrevistados. Assim, aproximadamente 64% do eleitorado desconhecia ou não se lembrava dos nomes dos possíveis candidatos, quase dois terços dos eleitores.
Um número de não avaliações alto numa pergunta de intenção de voto cuja resposta é espontânea demonstra indícios de desconhecimento dos pré-candidatos, seja pela distância do período eleitoral ou também por desinteresse do eleitorado em relação à política. Este percentual alto de desconhecimento ou indecisão denota uma possível indiferença acerca do processo eleitoral de Outubro.

O desinteresse pelas eleições não é exclusividade de Rio Verde ou do Estado de Goiás. Pesquisa nacional realizada pelo Ibope Inteligência no mês de novembro de 2013 demonstra que 24% dos entrevistados não tem nenhum interesse nas eleições de 2014, enquanto que 32% responderam ter pouco interesse. Isso nos permite inferir que mais da metade do eleitorado tem pouco interesse nas eleições de 2014 e já não se motivam a participar e se envolver na disputa eleitoral.

Os números dos protestos ocorridos a partir de meados de 2013 ilustram esta indiferença ou omissão. Conforme demonstra levantamento do Instituto Análise, 77% dos brasileiros são favoráveis aos protestos, mas a participação é bem inferior a este percentual. Isso nos faz perceber que existe algum tipo de discordância por parte do eleitorado, mas que não será explicitado através da participação de protestos. Há um sentimento de apatia cada vez maior, uma vez que muitos apesar de apoiar os protestos não vão às ruas. Para estes, o voto é seu instrumento, muitas vezes traduzido no voto nulo ou por dispender pouco tempo em seu processo de tomada de decisão e possivelmente manter os atuais nomes que estão no poder.

Em Rio Verde este processo é nítido: o eleitorado demonstra sinais de não perceber diferenças entre os candidatos. Isso serve de alerta para os possíveis candidatos ao Governo de Goiás e que tentam quebrar a bipolarização existente entre PMDB e PSDB. É um sinal claro que o desinteresse cresce, e por mais que novos nomes surjam o eleitorado começa a não acreditar que sejam diferentes, que representem alguma novidade e que não são “mais do mesmo”.

Os sentimentos de apatia, indiferença, omissão em relação ao cenário atual são evidentes. Após o final da Copa do Mundo em meados de julho de 2014 muitos atores políticos acreditam que o envolvimento político irá aumentar. Entretanto, tal análise demonstra-se demasiadamente simplista. Pode até ser que o envolvimento aumente após a copa, mas o desinteresse permanecerá. Cabe aos pré-candidatos encontrar formas para atrair estes dois terços do eleitorado de Rio Verde para a discussão e interesse político. Não há margem para achismos ou amadorismo.

Leandro Rodrigues – leandro.rodrigues@grupom.com.br
Doutor em Ciência Política, pesquisador da UnB e analista de política da Grupom


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